Na quinta-feira pela manhã, saímos da Bahia eu, Alceu Barros, João Rodrigues e Gabriel, o bravo motorista dos olhos que não piscam.Rumamos para Ribeira do Pombal, onde já nos esperava Joselino Ribeiro,o “Coqueiro Verde”, com a mesa farta e gostosa regida pelas divinas mãos de dona Antera.
Sentido da viagem: Sendo Alceu e CoqueiroVerde autênticos “lampionólogos” e “gonzagólogos”, armou-se essa aventura pelas trilhas do Rei do Cangaço e do Rei do Baião e, de sobremesa, um pulinho até Juazeiro do Norte para a bênção do “Padim Ciço”.A presença de João Rodrigues, oráculo santamarense e único rival do Google que conheço, sempre eleva o nível de erudição e humor das conversas; e eu fui por generosidade deles três, sempre aprendiz, ao lado de mestres.
Ribeira do Pombal, dormida em Paulo Afonso, almoço em Petrolândia(PE), passagem por Salgueiro, chegada em Exu. Na “Meca do Baião”, a emoção saiu de controle. Pisar o berço de “seu” Luiz, sentir sua presença quase física ainda ali, imaginar sua juventude por aqueles becos e ruas, todos os ingredientes da formação de um gênio.No povoado de Araripe eu e os amigos repetimos a cena da volta de Gonzagão, 17 anos depois e já famoso, depois de
ter desertado de sua terra.Está lá a casa de barro e a primeira janela onde ele bateu naquela madrugada : ”Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo”. E o pai, severo: “Isso é hora de chegar, seu corno!”
Noite quente em Exu, com sorte encontramos uma pousada aberta cuja dona nos garantiu que apenas duas muriçocas voavam naquela zona aérea e não mais que isso.Pela manhã, querendo conferir a veracidade da informação, perguntou se tínhamos passado a noite bem. Aí, um inconformado João Rodrigues, irônico e demolidor, respondeu, ao seu estilo:”De fato, só havia duas muriçocas, que matamos logo; todas as outras devem ter aparecido para o
velório…”
Em Juazeiro do Norte, aos pés da estátua de Padre Cícero, olhando a vastidão sertaneja, a fé, a coragem e a música transformavam-se numa coisa só, na grande alma da Cultura que é, de verdade, a fonte dos milagres.
Jorge Portugal, educador e poeta.
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