UM FUTURO NEGRO

Voltando à “Capital Negra das Américas”. No último artigo, ao mencionar que os negros/afrodescendentes de Salvador só conseguem emplacar o “vice-prefeito da capital”, recebi e-mails entre indignados e irados.Os indignados dando-se conta de que “ é verdade, a gente nunca atenta para esse pequeno-grande detalhe”; os irados, assim ficaram justamente por eu ter lembrar esse fato e “ por que Salvador teria a obrigação de ter um prefeito negro?”.

Aos segundos, respondo com um exemplo: depois de 500 anos de história , tendo no seu comando apenas representantes das elites nacionais, o Brasil resolveu eleger um presidente nordestino, ex-pau-de-arara, sem diploma de nível superior, monoglota, oriundo da classe operária.Esperava-se o desastre. Pois bem, foi esse homem quem , através de políticas públicas substantivas, retirou da linha da fome 40 milhões de brasileiros, mais 30 milhões da linha da pobreza, incluiu 800.000 estudantes pobres( negros e mestiços) no ensino superior e promoveu real valorização do salário mínimo.Sabe por quê? Pelo simples motivo de que ele não estudou “necessidades sociais” apenas nos livros, mas viveu todas elas na própria pele.

Assim também pode acontecer com uma cidade que tem 95% de sua população formada por negros e negro-mestiços.Se ela tiver um(a) pessoa com sua cara como seu(sua) prefeito(a), que já tenha vivido a barra do preconceito e da exclusão social, mas tenha dado a volta por cima pelos caminhos da superação e hoje se encontre em condições de dirigi-la, conhecendo profundamente o sentimento e as dores desse povo, claro que seria a perfeição dos encontros.

As peças da sucessão, no entanto, começam a ocupar o tabuleiro e são os partidos que fazem o jogo.Mas queremos entrar nele e, dessa vez, não a lateri.Exigimos lugar na centralidade do processo, porque qualquer política pública que se promova ou não incidirá sempre sobre a vida de 95% da população desta cidade, que somos nós.Afinal, na “Capital Negra das Américas”, o futuro tem quer ser negro também.Ou afrodescendente, vá lá.

Fonte: http://www.jorgeportugal.com.br/blog/