CHILE SEJA AQUI!

Demorou! A melhor notícia que recebi na semana passada foi a manifestação de estudantes brasileiros em defesa da qualidade do ensino nacional.Já estava achando esquisito a moçada do Chile “mandando ver” nas ruas há várias semanas, e o pessoal daqui… nada!E olhe que no comparativo dos dois sistemas de educação, sempre nos chegaram notícias de que o Chile era praticamente um paraíso nessa área.E eu daqui pensando: “puxa, se o Chile é um paraíso e se movimenta, o Brasil, que está pra lá de inferno, nem pia”.

Os estudantes que foram às ruas em Brasília pedem basicamente duas coisas: que se aumente o percentual do PIB, em 10%, para a educação e que se destinem 50% da renda do Pré-Sal para promover e incrementar políticas públicas que melhorem nosso ensino.Boa e justa pauta! Mas se eu tivesse voz amplificada sugeriria a eles que aproveitassem o embalo e incluíssem algumas “velhas reivindicações” que temos martelado aqui do nosso espaço, muitas propostas pelo grande educador Cristóvam Buarque: 1)que fosse criada e aplicada responsabilidade penal aos gestores que ainda se negam a pagar o piso nacional aos professores;2)excluída essa possibilidade, que fosse então federalizado o ensino público brasileiro, passando os trabalhadores em educação a serem tratados da mesma forma que funcionários do Banco do Brasil, da Caixa Econômica e da Petrobras;3)que fosse aprovada , pelo congresso, a “bomba do bem”, que determinaria a qualquer detentor de cargo público – do vereador ao presidente – a matricular seus filhos na rede pública de ensino.

Quem sabe se, pedindo tudo isso, os estudantes não consigam levar, pelo menos, os 10% do PIB e os 50% do Pré-Sal? A situação é clássica: todo partido de esquerda que chaga ao poder pelo voto, tende a fazer um leve(ou acentuado) movimento à direita.Sobretudo quando precisa aliar-se a um elenco de partidos que até ontem apoiavam a ditadura.A possibilidade de vender um quarto da alma em nome da governabilidade é altíssima.Daí então, os movimentos sociais(que sabem onde o calo dói) não podem relaxar um minuto.Se não se movem nas ruas, o governo não se move no poder.Por isso, precisamos voltar a gritar –e bem alto – nos ouvidos do Congresso e da Presidente Dilma .A UNE não pode ser uma secção do Planalto.Nem os sindicatos.Nem o MST.Movimento social é pra fazer governo avançar!

Já que voltaram às ruas, espero que os estudantes “tomem gosto” e continuem por lá.E a sociedade venha atrás.Afinal, ensino público de qualidade é a única bandeira que ainda tem cheiro de revolução, nessa quadra histórica sem utopias.Como a juventude está fazendo no Chile, temos muito mais motivos para não voltarmos a casa tão cedo.

Fonte: http://www.jorgeportugal.com.br/blog/