A DEPUTADA E A BAIXARIA

Vem da deputada Luiza Maia, do PT-BA uma proposta que vai acender polêmica sem fim: sugere ao governo da Bahia que não contrate grupos de pagode cujas músicas desrespeitem a figura feminina, que atentem contra a dignidade da mulher. Para os que não conhecem bem a história, aqui na Bahia há um sub-produto da Axé Music – grupos de pagode – que invariavelmente trazem nos refrões de suas músicas(?) “carinhosos elogios” à figura feminina como “ cachorra”, “periguete”, “problemática”….

Alguns “arautos da livre expressão” já colocam a boca no trombone de vara alegando a instituição da censura, que as bandas de pagode têm todo o direito de cantarem o que quiserem, que vivemos numa democracia, etc, .

Feministas apoiam o projeto argumentando que tais músicas ferem direitos humanos, entre os quais o respeito ao semelhante, e essa desconstrução da imagem da mulher - prática contínua dessas bandas baianas - é violência verbal que pode muito bem levar à violência física.

Convido vocês a uma análise de fundo: qual é o perfil daqueles que formam um grupo de pagode? Jovens negro-mestiços, entre 18 e 30 anos, nascidos e criados em alguma periferia de Salvador, onde o braço do estado pouco ou quase nunca chegou, sem acesso, portanto, a qualquer repertório cultural de melhor nível, e que “monta” sua composição geralmente a partir de um refrão que condensa todo tipo de preconceito em relação ao “outro” que ele considera mais frágil e menos poderoso: a mulher, o travesti, o gay.

Do outro lado, um grande público em tudo semelhante aos “artistas”, imerso na mesmíssima indigência intelectual, quer apenas balançar o esqueleto com um ritmo eletrizante que inspira coreografias sexuais excitantes.No meio dos “artistas” e do público, o empresário esperto e um programador de rádio mais esperto ainda, que vai executar 15 vezes por dia esse “trabalho”, transformando-o em retumbante sucesso e faturando imensa fatia do Carnaval-São João-Carnaval em que se tornou o calendário baiano.Em suma, a falta de informação, educação, ética humana e inteligência musical tornaram-se a principal mercadoria da “cultura baiana” atual.Grosseria que gera muito dinheiro!

Acho que o projeto da deputada Luiza Maia vai encontrar resistência até dos seus pares na Assembleia Legislativa.Brandindo o argumento da “livre expressão”, jamais confessarão o medo que têm de perder os votos da pagoderia.Por outro lado, grande contingente de mulheres que se sentem agredidas por essas bandas, não demonstraram,ainda, a mínima vontade de ocupar as redes sociais e as ruas, em protesto, contra essas aberrações musicais.

Uma proposta à proposta: por que não sugerir ao Governo do Estado, prefeituras municipais e estatais que não contratem tais bandas simplesmente…porque elas não precisam do dinheiro público?Já estão muito bem colocadas no mercado, faturando horrores com sua grande massa de consumidores.Que se virem com o patrocínio privado.E aí, mulheres, hora da ação: denunciar e boicotar produtos de empresas que se associam a essa baixaria musical.

Fonte: http://www.jorgeportugal.com.br/blog/